Pesquisadores apoiados pela Fapemig desenvolvem plataforma para detectar coronavírus

Os brasileiros têm acompanhado nas últimas semanas, com esperança e expectativa, a chegada das vacinas da covid-19. Contudo, há ainda um longo percurso e os cuidados de distanciamento social e detecção da doença continuam sendo ações importantes, uma vez que mesmo após a vacinação em massa a circulação do vírus continuará.

Nesse cenário, a detecção rápida, barata e acessível do vírus continua sendo uma importante forma de inibir a circulação do coronavírus, assim como de suas mutações. Pensando nisso uma equipe de pesquisadores do Centro de Tecnologia em Nanomateriais (CT Nano/UFMG), apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), está desenvolvendo uma plataforma portátil para identificar a covid-19 de forma mais rápida e barata do que os teste que temos disponíveis atualmente.

Segundo a pesquisadora do Departamento de Física da UFMG e membro da equipe, Lívia Siman, a Plataforma Portátil de Biodiagnóstico (PPB) é baseada em dois elementos: nanosensores de ouro e um leitor ótico. Os nanosensores são fabricados pela equipe, que também os preparam de acordo com a molécula alvo de interesse. “Por exemplo, decoramos essas nanopartículas de ouro com uma proteína produzida no CT Vacinas, que é reconhecida por um anticorpo que é gerado em resposta à infecção da covid-19”, explica.

Segundo Siman, esse tipo de diagnóstico é chamado de sorológico, pois utiliza o sangue do paciente para fazer a pesquisa de anticorpos. Além dele, a equipe também trabalha em um detector para identificar o material genético da covid-19. A pesquisadora conta que nessa frente também é usado o sensor de ouro, porém, nesse caso, os bastões são decorados com uma sequência de material genético que é capaz de reconhecer a sequência genética do coronavírus. “É um diagnóstico molecular onde procuramos material genético, não mais pelo sangue, e compete com exames como PCR”, informa.

Além de Lívia Siman, participa do projeto os professores Ary Corrêa, Oscar Mesquita e Luiz Orlando Ladeira. O estudo conta ainda com o apoio dos estudantes Rosimeire Barcelos, Iara Borges, Caroline Junqueira, Kennedy Batista e Patrick Mendes.

Covid-19 e nanosensores 

Apesar de usar ouro, o novo diagnóstico visa ser um teste barato. Segundo Siman, isso é possível pois a equipe trabalha com o mundo nano, o que leva a uma diluição muito grande dos compostos. “O ouro é caro, mas a quantidade que usamos é ínfima. Além disso, em qualquer tipo de exame como esse o que realmente tem um alto custo é o material biológico. Uma grande vantagem dessa plataforma é, mais uma vez, por estarmos na escala nano, a quantidade que utilizamos desse material é mil vezes menor do que as técnicas convencionais”, conta.

Já sobre o fator inovador da proposta, a pesquisadora destaca que a plataforma em si já é uma tecnologia inédita, uma vez que se propõe a ser de passo único, não depender de equipe especializada e fornecer três informações distintas sobre o mesmo evento biológico. “Hoje em dia temos muitos testes rápidos, mas poucos sensíveis. Então, o grande diferencial da PPB é a sua rapidez alinhada a alta sensibilidade”, pontua.

Contudo, os sensores também possuem mais algumas inovações. “Por exemplo, a nossa técnica de rastreio de anticorpos também trabalha na escala nano, o que permite que ele seja mais rápido e não demande uma infraestrutura laboratorial para rodar o exame. A ideia é que ele possa ser feito em bancadas e postos de saúde”. No diagnóstico molecular a vantagem é que, graças ao passo único, o custo se torna bem menor, para se ter uma ideia o PCR, teste utilizado hoje em dia, devido aos seus reagentes de alto custo e a sua demanda por pessoal altamente especializado ele tem um custo ao redor de R$300.

Além da Fapemig, o projeto conta com o apoio da Capes e do Ministério da Educação (MEC). Segundo Lívia Siman, os financiamentos permitiram a construção de uma equipe multidisciplinar, com diversos profissionais voltados para um problema específico a ser resolvido.

Fonte: ASCOM Sede

Foto: Foto: Acervo da pesquisadora Fapemig